domingo, 30 de maio de 2010

Jenipapo com cebola

No banquinho da Praça do Jenipapo, sentei e sorri.
Em um papelzinho, um tiro no escuro.
Peito aberto, cabeça erguida.
Se tiver que ser, vai ser direito.
Vai ser feliz, com muitos olhos esbugalhados.
Não vai ser no grito. Nem no sussurro manhoso.
Vai ser na consciência.
Vai ser na razão que move a felicidade.
Não na carência que move a ilusão.
Ilusão, não.
Um brinde de paz!

***

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fica

Porque tudo com você é muito
bom ou ruim
lágrima ou riso
calor ou frio
mas confesso que não quero o fim

Torniquete no coração
A sua mão me caçando no meio da noite, para um abraço apertado
A conchinha infinita

Em prece, peço para o dia não nascer
para não ter que escapar de suas pernas.

Meu lugar é embaixo do seu braço
Seu lugar é encostado no meu peito
Com cosquinhas como música de fundo
Tão bonito
Suas caras engraçadas e as minhas

Tudo é muito
até o pouco...

sábado, 22 de maio de 2010

Página 25

Nada de amarelo
Sou vermelho Gabriela com Volúpia
Do calor em mim
Do dia em que me dei a mim mesma de presente

Sou minha
Livre para escolher os clichês que quero em vida
Sem pose, sem tipo

Sem a necessidade de mostrar que sei
Página quase em branco
para acrescentar

Não exija conclusões,
estou na página 25
Leia e releia para poder escrever em mim

Da ânsia de conhecer
as fotos que ainda não tirei
as músicas que não ouvi e não dancei

Sou forte, sem Rebu
Intensidade doce
com azedinho
como a cereja - cujo sabor não gosto, mas sei que é bom
com chocolate

A estranheza da chuva que cai já não me traz aflição
Deixa cair, deixa molhar
Subir o cheiro da fruta madura

Deixa cair a noite, raiar o dia
Recomeçar

Da ânsia de viver e ser
o que ainda não fui

***

terça-feira, 18 de maio de 2010

Tamanha

Talvez eu seja mesmo muito pequena, a ponto do meu coração passar despercebido.
Um coração tão pequeno não merece um grande amor. Talvez, você pense.
Um coração tão pequeno se contenta com pouco, com quase nada. Você pensa?
Essa história de músculo involuntário é a maior besteira.
Todos os dias eu tenho que ordenar que o meu coração bata.
Eu viro para ele e grito: bata! Pulse! Não pare!
E quando ele se cansa, quando teima em não querer, eu digo para ele: eu sou maior que você!
Posso ser mesmo muito pequena, mas sou maior que meu coração.

***

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dezoito

Ilusão de meio copo de pensamentos salgados que escorrem pela minha face.
Ilusão de cacos espalhados no caminho e que entram no meu pé
vermelho
vermelho... como o músculo tum-tum de dentro que bate
Ilusão que bate
Ilusão de olhos fechados, juntinhos, separados,
olhos abertos e fechados... de ódio
de ódio? de ilusão.
de virar osso de virar gostosa
boca boca beijo
ilusão de amor eterno tum-tum
garganta arranha escorre grita
sufoca ilusão desabafa na tinta.
Ar condicionado de ilusão, de ácaro,
de onça, de peixe, tartaruga e beija-flor.
Ilusão de dente colorido e céu-azul
de voar, de voar, de voar
Ilusão de um dia ser gente.

(Originalmente escrito em 27/11/2003, às 14h43)

***

terça-feira, 4 de maio de 2010

Data

Não me dê presente sem cartão, livro sem dedicatória, porta-retrato sem foto
Vamos pessoalizar as coisas
Não me dê flores só porque sou mulher
Não quero um CD sem nenhuma música dedicada a mim
Não me dê presentes úteis só porque são úteis
Nem me venha com roupas que você não me veja dentro

Vamos nos tornar especiais
Quero significado!

Nada de joias sem compromisso de felicidade
Nem de perfumes que não te façam lembrar de mim
Deixe sua marca, faça valer a lembrança
Surpreenda
Tire meu fôlego
Arranque um sorriso carregado de emoção
Vá além do presente. Transforme em memória
Presenteie-me com significado.


***