quinta-feira, 29 de setembro de 2011

No avião

Já sinto saudades de mim
Desses anos que vivi nesses dias
Do trem na estação à beira do mar
Da risada que tem gosto de café com leite

Sinto saudades de mim no alto das torres
Meu peito se faz em mosaico colorido de Gaudí

À beira do lago
folhas de outono caem
lágrimas caem
Mas é só felicidade

Meu cabelo voa
eu voo
com as gaivotas brancas

Meu peito se faz em bolas coloridas de sorvete
Em fogos de artifícios coloridos

Encosto a cabeça na janela e espero a voz, que diz:
"Propera parada..."


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Two Door

E se eu contar que naquele sábado pensei em voz, não em barba. Fui procurar o seu sorriso, mas ele ficou cerrado. O quanto eu rodeei, rodei, parei, tonta. Surda com a música. Caí em dois braços que me cercaram de barba. E voz. Fechei os olhos. E acho que ainda não abri.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A memória, essa ingrata.

Eu me lembro muito bem de quando comecei a esquecer sem querer. O desespero que senti. Mergulhei em fotos, em histórias, para guardar você comigo. Mas minhas lágrimas nunca faltaram. Ano após anos, mesmo sem lembrar seu rosto de cor, mesmo que o assobio e a risada alta já soem tão longe, a falta existe. A falta cresce. Tanta coisa que você perdeu desde que eu perdi você. E dizer "pai" é salgado todo agosto.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Vinte e seis

Há tanta beleza em paz
plenitude, alma calma
o rio corre devagar

O tempo é lento
pressa não há
riso há
há há

Quase valsa, quase bossa
quase solo de guitarra em blues
Quase dia
pego carona na estrela da manhã

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cheesecake

... e eu só penso na sua barba que roçou meu rosto. Eu fechei os olhos. Dois braços inteiros em volta de mim, me fazendo pequena como gosto de ser. Ver seu sorriso tão de perto fez meu coração querer saltar pela garganta, mas o engoli de volta, com toda a saliva que se formou em minha boca.

domingo, 24 de abril de 2011

rascunho

- queria tardes livres, para ouvi-lo sem precisar fechar a porta ao sair
- queria ser motivo suficiente para fazer os cantinhos da sua boca expandirem para os lados
- queria mexer no seu cabelo e mergulhar na molequice do seu riso, sem medo

***

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Gosto do cheiro de depois da chuva"
"Isso é coisa de quem escreve poesia"
Talvez seja.
É poesia o que escrevo? Só escrevo.
Sinto.
Sem esforço para parecer alguma coisa.
Talvez confunda.
Não deixa nítido o que sou. O que sou?
Cheiro de chuva.
Da que cai devagarinho e não destroi.
Da que molha a terra. E o concreto.
Que faz brotar. Que forma poça. Que seca.
Água em movimento.
Cheiro de vida.
Vida, simplesmente.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ironia

(... uma dorminhante que tem insônia! Quem diria! Dormir é privilégio de quem não passa frio no coração?)

***

segunda-feira, 28 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cachorro

Deu ao cão nome de brincadeira. Bricadeira que sonhamos juntos. Ou eu sonhei, não sei. Mas no meu sonho era um casal e um cachorro. E uma casa nova. Ou foi ele quem sonhou e eu pensei que o sonho fosse meu, já não sei. Já não sei quais sonhos invadi e de quais me apropriei sem ter sido convidada. Só sei que senti frio. Não foi tristeza, foi frio. Como ver uma perna andando sozinha e ficar procurando pelo resto do corpo. Um cão em cima do edredom que me aquecia. Um cão recebe o carinho que era meu. Ou que sonhei que fosse meu, já não sei. Eu era gata e ele dizia não gostar de cães. Eu queria um cão. O problema não é o cão, são as cadelas. É o cachorro.

***

Avulsos

Todo azul dos seus olhos para colorir o cinza
Vai no avião azul do céu
Eu fico no azul do mar
e o cinza no peito da falta que você faz

***

Tu é marrento
carioca
barbudo
bom de bola
e mexeu comigo assim
como assim
não assim
eu ri com suas graças
fucei suas ideias
curti suas músicas
e querer saber mais um pouquinho é meu vício
como assim
não assim
mas é carioca
marrento
cheio de esse e de xis e riso de moleque
é assim
sempre assim
com violão
posso não
sei que não
mas achei engraçadinho

***

Chapéu e charuto em olhos de garoto
riso tímido com pitadas de mau humor
Tem nome de poeta. E esconde sonetos
O que mais esconde?

Apague esse charuto e essa banca
Acenda um riso desarmado
É bonito um homem desarmado
peito aberto, alma aberta

E se o tiro vier? Dói.
E se o sangue escorrer? Dói.
E se tiver que doer?

E se o choro vier? Dói.
E se a lágrima escorrer? Dói.
E se tiver que doer?

***

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Doce Lar

Na sua casa a preguiça acorda
com fome e com sono
é servida de banquete
em colo de mãe

Sou tudo que não quero ser
Minha vontade é uma mula
que precisa de chicote
mas tenho colo

É fácil virar almofada
ronronar com seu carinho
pagar com beijinho
mais um dia, mais um dia

Quero sair
Quero ficar

A vontade arruma as malas
A preguiça agarra na barra da sua saia

Quero sair
Quero ficar

***

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor pra recomeçar

(Frejat)

*Especialmente para Philipe Lemos

Eu te desejo não parar tão cedo
Pois toda idade tem prazer e medo
E com os que erram feio e bastante
Que você consiga ser tolerante

Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar

Eu te desejo, muitos amigos
Mas que em um você possa confiar
E que tenha até inimigos
Pra você não deixar de duvidar

Quando você ficar triste
Que seja por um dia, e não o ano inteiro
E que você descubra que rir é bom,
mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar

Eu desejo que você ganhe dinheiro
Pois é preciso viver também
E que você diga a ele, pelo menos uma vez,
Quem é mesmo o dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar
Pra recomeçar

***

Parabéns, P-Lemos! :)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Quase penso que sou jovem

Só ia olhar da janela
não me jogar de lá
Mas eu sei, eu sei, janela é coisa perigosa demais
Janela é coisa pra vida inteira
E eu só queria ver o pôr-do-sol
Tão belo
Mas pôr-do-sol é coisa perigosa demais
O vento bate no rosto e eu penso que sou jovem
Que perigo!
Penso que sou bela
Que perigo!
Janela é coisa pra vida inteira.

Enquanto espero a vida inteira
a vida passa
a beleza passa
o vento leva

Pensei ver o dia nascendo, mas é noite
Pensei ver o mar, mas é noite
Janela é coisa perigosa demais!

***

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A

Sabe aquela letra? Daquela música? Brega, que a gente canta em tom de brincadeira? Com muitos risos? Quero que seja verdade. E que seja só pra mim. Que ela não seja cantada pra mais ninguém. Que pense em mim quando ela começar a tocar. Só em mim. Porque no fundo, toda mulher quer a mesma coisa, mas que seja só pra ela. Quer ser linda, querida, paixão. Quer sorriso, carinho, chamego. Mas quer ser única. Ser a. Será? Enfim.

***

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
















Quando o céu fica da cor do amor, tudo fica escuro para ele brilhar. Um dia eu também serei nuvem no crepúsculo. Uma criança brincando. Um cavalo a correr. Um coração. Um balão. Uma bailarina. Multiforme. Respirar a alegria do belo, encher os pulmões.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Vitamina C

A graça volta
Como o apetite depois da gripe

A febre passa
O ar passa
pelo nariz

O cheiro dá saliva
Sabor laranja, refrigera

O riso no espelho
com lápis, batom, perfume
salto alto

A graça volta
dá voltas
e voltas

***