quarta-feira, 16 de maio de 2012

Três para trinta

Cartola me acorda: "Corra e olhe o céu"! Obedeço e encontro vinte e sete passarinhos a cantar, dançar e beber água na janela. Minha mãe sabe o nome de todos. O céu deve ser azul hoje, mesmo se o tempo estiver nublado. O céu colorido com vinte e sete passarinhos a sambar. Vou com eles, porque tenho mesmo essa mania de viver na ponta dos pés. E de achar graça nas coisinhas, tão pequenas quanto eu. As janelas me mostram bonita em cada vidro, em cada espelho. Tão mulher como nunca me senti antes. E um riso bobo que entrega meu encanto por uma pinta (um boa pinta?), com cheiro de chocolate. Mas tenho vinte e sete passarinhos que aprenderam a voar com pés no chão. "Ah, corra e olha o céu que o sol vem trazer bom dia"



domingo, 1 de janeiro de 2012

Céu

A alegria não me pesa culpa. E eu quero o leve. Se posso escolher, quero o simples. Porque só tenho hoje para sentir meu coração acelerado. Porque só hoje tenho a juventude que me cabe em 26 e eu não quero esperar. Não me aprisione em grades de imagem, eu quero voar. Não espere que eu mostre o que você quer ver. Porque eu sou, e isso me basta. Não nasci para vitrines. Meu riso é grande demais para uma caixa. E eu sei que Deus gosta dele assim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

No avião

Já sinto saudades de mim
Desses anos que vivi nesses dias
Do trem na estação à beira do mar
Da risada que tem gosto de café com leite

Sinto saudades de mim no alto das torres
Meu peito se faz em mosaico colorido de Gaudí

À beira do lago
folhas de outono caem
lágrimas caem
Mas é só felicidade

Meu cabelo voa
eu voo
com as gaivotas brancas

Meu peito se faz em bolas coloridas de sorvete
Em fogos de artifícios coloridos

Encosto a cabeça na janela e espero a voz, que diz:
"Propera parada..."


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Two Door

E se eu contar que naquele sábado pensei em voz, não em barba. Fui procurar o seu sorriso, mas ele ficou cerrado. O quanto eu rodeei, rodei, parei, tonta. Surda com a música. Caí em dois braços que me cercaram de barba. E voz. Fechei os olhos. E acho que ainda não abri.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A memória, essa ingrata.

Eu me lembro muito bem de quando comecei a esquecer sem querer. O desespero que senti. Mergulhei em fotos, em histórias, para guardar você comigo. Mas minhas lágrimas nunca faltaram. Ano após anos, mesmo sem lembrar seu rosto de cor, mesmo que o assobio e a risada alta já soem tão longe, a falta existe. A falta cresce. Tanta coisa que você perdeu desde que eu perdi você. E dizer "pai" é salgado todo agosto.